De boas intenções o inferno está cheio, diz o ditado. Quem nunca testemunhou episódios envolvendo colaboradores que, movidos pelas mais nobres motivações, acabaram protagonizando a maior dor de cabeça para as empresas?
É que na seleção de candidatos, ser bonzinho – assim, com todas as letras, pode nem sempre ser positivo.
Será?
Vamos polemizar um pouco para esquentar o debate!
Se ao ler o título do post lhe veio à cabeça a expressão “vaca de presépio”, usada para se referir a uma personalidade passiva, apática, que apenas concorda com o que lhe é dito, você vai se surpreender com o que vai ler.
O negócio é um pouco mais complexo, sob a ótica de profissionais que adoram pôr fogo nesta fogueira, como o jornalista Oliver Stanley, que escreve para um site voltado a desenvolver habilidades de gestores.
Stanley é um tanto impiedoso com os que chama de simpáticos, prestativos, aquele pessoal que faz de tudo para ser amado por todos.
Por que desconfiar dos muito bonzinhos na seleção de candidatos , afinal?
Antes que você diga que o tal jornalista do qual falamos quer aparecer e está procurando chifre em cabeça de cavalo, atenção: ele está citando Adam Grant, psicólogo organizacional e respeitado professor da Wharton.
É de Grant a teoria de que trabalhadores se dividem em 2 grupos: os que se doam e os que tomam tudo para si; os com a habilidade de concordar e outros, de discordar.
Os que se doam, segundo a teoria, fazem os colegas se sentirem melhor, enquanto os “tomadores profissionais” são egoístas e se interessam apenas pelo próprio umbigo. E assim, temos de um lado os amigáveis e, de outro, os ranzinzas.
>>Leitura recomendada:
Algumas das maiores empresas do mundo tem processos seletivos criativos. Esse tipo de processo é muito útil para alavancar a reputação empregadora e pode agilizar muito a seleção de candidatos.
Papo-cabeça?
Tudo seria fácil de entender, não fosse o fato de que há híbridos: os que se doam não necessariamente fazem o tipo vaca de presépio. E que os egoístas nem sempre têm como esporte preferido discordar do mundo.
É aí que a teoria do “fuja do muito bonzinho” vai ficando mais clara. Grant garante que é cilada acreditar que o candidato ideal seja aquele que tira a comida do próprio prato para dar para os outros, aquele que está sempre pensando no bem do próximo.
Para o especialista, o cara na verdade está em busca de aprovação o tempo todo, e foge de conflitos como o diabo da cruz.
Ao mesmo tempo, o sujeito que acha que o mundo foi criado para ele e cujo lema é “cada um por si e Deus por todos”, realmente é um mala sem alça. Mas, bem gerenciado, pode dar contribuições importantes para a empresa.
Motivo: esse tipo de pessoa briga pelo que acredita, estimula mudanças, desafia a zona de conforto e o status quo. Apesar de a palavra generosidade não fazer parte de seu dicionário, quando resolve conjugar o verbo doar, pode acreditar que é sério.
Para o psicólogo, olhos abertos para nuances da combinação contestador-doador. É um perfil que sente muito mais prazer numa discussão do que numa conversa amiga. Portanto, está sempre disposto a “causar”. Ironicamente, podem contribuir muito para empresas que querem varrer a praga da complacência do ambiente de trabalho e têm pressa de evoluir.
Gente fofa X gente prestativa
Citamos em um post a experiência da Jetblue Airways, que julgava que a característica mais importante para contratação de um comissário de bordo seria seu nível de “fofura pessoal”.
A verdade ruiu quando, numa pesquisa com consumidores feita pela Wharton Business School, veio a revelação: o importante para o usuário era ter à sua disposição um funcionário prestativo, muito mais do que bonzinho. Os clientes queriam alguém que resolvesse de forma rápida o seu problema ou necessidade.
Não é incrível?
Com essa informação, o funil de seleção foi ajustado com muito mais efetividade. A empresa passou a contratar candidatos mais alinhados com as suas necessidades e expectativas. Final feliz!
Antes que você diga que tem teoria para todos os gostos no mundo do recrutamento, vamos engrossar esse caldo:
“Você não precisa de gente legal. Você precisa de gente boa”.
Quem filosofa é Broke Allen, executivo que trabalhou por 30 anos na indústria de seguros.
E complementa: os adjetivos “legal” e “bom” não são sinônimos. O contrário de legal é desagradável. O contrário de bom é ruim.
Para ele, isso muda tudo: o legal gosta de você, se você gostar dele; o sujeito bom se preocupa de verdade com o outro. ‘Se você pedir para uma pessoa legal fazer algo de mau, é capaz de fazer, porque quer agradar”, diz.
Allen garante que, segundo tudo o que vivenciou no mundo corporativo, o sujeito legalzinho vai querer ser contratado, mesmo sabendo que não é a melhor opção. O bom só aceitará se estiver certo disso.
E ele abre uma experiência bem interessante: uma vez, fez job descriptions idênticos no que dizia respeito aos aspectos técnicos da vaga, mas em uma versão pediu alguém com perfil pessoal do tipo legal e no outro, pulso firme.
Para sua surpresa, muitas pessoas se candidataram às duas vagas. Para surpresa dupla, algumas assumiram as características psicológicas de acordo com uma e outra vaga.
Conclusão?
Lidar com gente, portanto, é das coisas mais difíceis, desde que o mundo é mundo. Os recrutadores que o digam!
E você, como você foge de armadilhas como essas na seleção de candidatos? Conta pra gente!