A inclusão de pessoas com deficiência (PDC) no mercado de trabalho é uma pauta constante no cenário nacional. Afinal de contas, apesar dos avanços, há muito o que ser feito.
No Brasil, a Lei nº 8.213/91 determina que pessoas com deficiência ocupem de 2% a 5% das vagas de trabalho em organizações que possuem 100 colaboradores ou mais.
Com o amparo da Lei, profissionais com deficiência conquistaram o direito de ingressarem no mercado de trabalho. Mas, principalmente, provaram que limitações físicas não impedem a produtividade a entrega de resultados com excelência.
No entanto, a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho precisa ter um significado muito maior do que apenas o cumprimento da legislação.
Diante deste cenário, é importante que organizações e profissionais busquem discutir e fomentar a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Confira neste artigo como trazer essa pauta para o debate e de que forma incluir as pessoas com deficiência nas organizações.
O que diz a Lei nº 8.213
A Lei nº 8.213, popularmente chamada de Lei das Cotas, foi promulgada em 1991 e busca promover a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Como citamos no início deste artigo, a Legislação estabelece 2% a 5% das vagas de emprego de empresas, com mais de 100 colaboradores, sejam destinadas ao grupo de pessoas com deficiência.
Conforme garante a Legislação, esse deve ser o preenchimento das vagas por PDC conforme o porte da organização:
- Empresas com até 200 colaboradores — 2%;
- Empresas de 201 a 500 colaboradores — 3%;
- Empresas de 501 a 1.000 colaboradores — 4%;
- Empresas a partir de 1.001 colaboradores — 5%.
Quem fiscaliza a chamada Lei de Cotas são os auditores do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) e do Ministério Público do Trabalho (MPT).
As organizações que descumprem a lei estão sujeitas a multas, que podem variar de R$2.331,32 até o teto por recorrência de R$ 231.130,50.
Como é o mercado de trabalho para pessoas com deficiência
Dados do Ministério do Trabalho e do Emprego divulgados em 2019 mostram que nos últimos 5 anos a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho cresceu 20%.
Entre os principais setores que empregam os profissionais com deficiência estão as grandes empresas, bancos e algumas indústrias.
Uma das principais mudanças que ocorreram nos últimos anos é que se antes o profissional com deficiência ocupava cargos e funções nos bastidores, hoje também conquistaram seu lugar em atividades de atendimento e áreas estratégicas.
Por outro lado, a pesquisa “Profissionais de Recursos Humanos: expectativas e percepções sobre a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho”, realizada pela i.Social, mostra que o caminho para a inclusão ainda é longo.
Segundo o estudo, a qualidade das vagas oferecidas para as pessoas com deficiência ainda é baixa. Visto que, na maioria dos casos, a escolha do candidato é feita apenas como forma da empresa cumprir o que diz a Legislação.
A pesquisa trouxe ainda um dado extremamente relevante e que diz respeito a cultura dos brasileiros sobre a inclusão.
Dos 2.949 profissionais de RH entrevistados para a pesquisa, 90% deles informaram que a maior dificuldade para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é a falta de informação específica para que a organização possa oferecer as melhores oportunidades para esses profissionais.
Como fomentar a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho
A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho engloba uma série de medidas, na maioria bem simples, que devem começar já forma de divulgação da vaga.
Confira algumas dicas para que sua organização abrace essa causa e invista em profissionais com deficiência que podem entregar resultados com excelência.
Processo de recrutamento acessível
Para atrair pessoas com deficiência para sua organização é fundamental que o processo de recrutamento e seleção esteja disponível em formatos acessíveis, como: braile, áudio e letras grandes.
Além disso, é fundamental que a descrição de cargos como exigências e qualificações estejam bem explicadas, dando destaque para o que precisa ser feito e não a forma como o trabalho será realizado. Isso se torna necessário pois um profissional com deficiência pode ter ou desenvolver a sua própria maneira de realizar determinada tarefa.
Equipe de recrutamento e seleção inclusiva
Uma outra forma de promover a inclusão de pessoas com deficiência em uma organização é ter uma equipe de recrutamento e seleção também inclusiva.
Isso significa que a equipe precisa estar preparada para atender e se fazer clara quanto a futura contratação. É também essencial que essa equipe tenha o entendimento do porque a contratação está sendo feita e que tenha o entendimento do processo de inclusão.
Além disso, é fundamental que o local da entrevista seja acessível e que questionamentos com suposições negativas não façam parte do processo.
Durante o recrutamento e seleção também é importante a equipe de RH saiba sobre as deficiências do candidato e entenda de que forma é possível criar novas rotinas de trabalho, melhorar as formas de acessibilidade e outros.
Isso significa que a inclusão já faça parte desde o momento da seleção, garantindo assim um ambiente de trabalho integrado e um bom clima organizacional.
Cultura da empatia
Para que uma pessoa com deficiência seja incluída em uma organização é preciso que os demais colegas de trabalho estejam sensibilizados com a causa. Para isso é preciso implementar uma cultura de empatia e respeito e tornar conhecidas as limitações do novo profissional.
Tudo isso com o objetivo de garantir o respeito ao novo colega e o engajamento de toda a equipe.
Uma das principais formas de se fazer isso é tornar os gestores e líderes os porta-vozes e responsáveis por aplicar as medidas de inclusão aos liderados e componentes dos times.
Capacitação profissional
Assim como já acontece com profissionais que não possuem deficiências, as empresas também precisam investir na capacitação e qualificação de profissionais com deficiência.
Isso é fundamental para que todos os colaboradores tenham as mesmas oportunidades e cresçam de forma igualitária dentro das organizações.
Análise de competências
Uma das maiores dores da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é o fato de que muitas organizações apenas cumprem a Lei, e não oferecem oportunidades reais para esses profissionais.
Para mudar esse cenário é preciso que as organizações tenham um programa de acompanhamento, que irá avaliar o desempenho do profissional com deficiência, como está sendo feita a inclusão, os métodos de treinamento, entre outros.
Além disso, o próprio processo de recrutamento e seleção deve ser revisitado e avaliado constantemente, a fim de torná-lo cada vez mais acessível e igualitário.
A inclusão de pessoas com deficiência é uma das formas mais eficazes de medir a humanização de uma gestão e a diversidade promovida por uma empresa. Deve fazer parte da cultura organizacional e também ser cobrada na prática.
E como é a sua empresa? Existe a inclusão de pessoas com deficiência ou mais uma vez estão apenas cumprindo o que exige a Lei?