Anteriormente, discutimos aqui no blog sobre a síndrome de burnout e suas consequências no trabalho e na vida. A forma silenciosa na qual o burnout se constrói é semelhante ao tema do artigo de hoje: Demissão silenciosa.
A “demissão silenciosa” ou “quiet quitting” se tornou um fenômeno crescente nas organizações em todo o mundo. No Brasil, ela tem ganhado bastante relevância principalmente após o período pandêmico, onde muitos colaboradores remotos e não remotos começaram a questionar o propósito do trabalho, suas condições de vida e o valor que realmente estavam recebendo em troca de seu esforço diário.
Se você é líder ou gestor, entender o que caracteriza esse comportamento, como identificá-lo a tempo e, mais importante, como preveni-lo, é fundamental para garantir o bom desempenho e a saúde organizacional. Neste guia, vamos abordar o que é a demissão silenciosa, as principais razões para seu surgimento e, acima de tudo, estratégias eficazes para evitar que ela se torne um problema real na sua equipe.
O que é demissão silenciosa?
A demissão silenciosa é um fenômeno onde um funcionário passa a diminuir os seus esforços no trabalho gradualmente, se limitando a fazer apenas o básico do básico e o necessário para não ser notado. É um comportamento que não envolve uma comunicação formal de desligamento, mas é, na prática, um.
Geralmente, o colaborador que adota este comportamento se distancia das responsabilidades além daquelas substancialmente essenciais, deixando de engajar com a missão da empresa ou com demandas extras que exigem comprometimento.
Ela pode ser confundida com a síndrome de burnout, pois inicialmente o funcionário pode apresentar sinais de sobrecarga e cansaço. Entretanto, à medida que o tempo passa, é percebido que seu nível de engajamento vai caindo e sem a intervenção adequada ele pode se tornar completamente desmotivado e, eventualmente, partir para uma busca de novas oportunidades que não seja na empresa em que está.
Porque a demissão silenciosa está acontecendo com mais frequência?
O aumento da prevalência da demissão silenciosa não é um fenômeno que teve início recentemente. Ela é na realidade uma consequência de fatores socioculturais e econômicos, onde um dos principais fatores de aumento foi a pandemia da COVID-19 que forçou milhões de trabalhadores a repensarem as suas prioridades de vida e trabalho, mas esse não é o motivo isolado para tal acontecimento.
Entram aqui também a mudança de expectativas de novas gerações de profissionais e as pressões colocadas em cima deles: As gerações mais novas, principalmente millennials ou geração Z têm abordagens diferentes em relação ao trabalho, eles buscam mais significados e propósito em suas funções, o que os tornam menos tolerantes a ambientes de trabalho tóxicos ou sem perspectivas de crescimento. Quando eles sentem que as suas necessidades emocionais e profissionais não são atendidas, optam pela “demissão silenciosa” como forma de demonstrar sua insatisfação sem precisar necessariamente sair da empresa.
Já a famosa cultura do “sempre disponível” e as expectativas altíssimas de produtividade em cima dos colaboradores geram uma enorme pressão e queda na produtividade, contribuindo para o estresse, esgotamento e sensação de falta de reconhecimento. Isso, por sua vez, resultou em uma sensação generalizada de desvalorização e desmotivação, fatores que alimentam diretamente a demissão silenciosa.
Além disso, quando os funcionários desmotivados deixam de investir energia em suas atividades, o clima organizacional também sofre. O comportamento se espalha e passa a influenciar os colegas de trabalho, criando uma cultura de conformidade e falta de engajamento. Esse fenômeno não impacta apenas grandes corporações: empresas de todos os tamanhos estão sujeitas a ver sua eficiência comprometida pela desmotivação silenciosa.
Como identificar colaboradores em demissão silenciosa
Identificar esses colaboradores nem sempre será tarefa fácil, isso porque, como falamos anteriormente, esse silêncio pode ser sintoma de muitas coisas, incluindo o burnout. Entretanto, aqui vão alguns sinais claros de que a demissão silenciosa está acontecendo:
- Queda no Desempenho e Qualidade do Trabalho: O colaborador tende a entregar o mínimo necessário e diminui a qualidade do trabalho Tarefas que antes eram realizadas com entusiasmo começam a ser feitas de maneira apática e sem brilho.
- Desinteresse em Colaborações e Projetos: A falta de iniciativa para participar de projetos ou discussões importantes é um claro sinal de desengajamento. Colaboradores desmotivados frequentemente se afastam de atividades que exigem um esforço extra ou que envolvem inovação.
- Falta de Comunicação e Feedback: Colaboradores que se distanciam emocionalmente da empresa tendem a reduzir a comunicação com seus colegas e líderes. Eles podem se tornar mais reservados, sem querer compartilhar ideias ou atualizações sobre seu progresso.
- Aumento das Faltas e Atrasos: A pontualidade e a frequência no trabalho podem ser prejudicadas, uma vez que o colaborador já não vê mais a empresa como uma prioridade.
Consequências para a empresa e para o colaborador
A demissão silenciosa parece um fenômeno inocente, mas a verdade é que ela pode ter um impacto devastador tanto para a empresa quanto para o funcionário. Colaboradores que passam a contribuir pouco, geram declínio de produtividade e na qualidade do trabalho e, como falamos anteriormente, isso pode gerar consequências para os colegas de trabalho e, agora, para a empresa onde os resultados financeiros e inovações ficam a desejar neste sentido.
No nível pessoal do colaborador as consequências são a longo prazo e apresentam problemas para a carreira, o profissional perde a chance de se desenvolver, aprender novas habilidades e avançar na carreira, além de não buscar oportunidades dentro da própria empresa. Isso pode resultar em uma estagnação profissional, em que o colaborador se vê cada vez mais insatisfeito e desmotivado. Em alguns casos, a falta de satisfação leva a um verdadeiro esgotamento, que pode ter consequências graves para a saúde mental do indivíduo.
Combatendo e revertendo a demissão silenciosa
Agora que entendemos as causas e os sinais da demissão silenciosa, o próximo passo é como evitar esse fenômeno e garantir que os colaboradores se mantenham engajados e motivados. Aqui estão algumas estratégias eficazes:
- Crie um ambiente de trabalho positivo e agradável:
A cultura organizacional é essencial para a retenção de talentos e desenvolvimento dos colaboradores, e criar um ambiente de trabalho onde eles se sintam parte de algo maior e suas contribuições sejam reconhecidas não só ajuda na retenção como também evita o quiet quitting. Uma dica legal é promover programas de bem-estar como atividades de socialização e descontração para ajudar a promover um clima mais agradável.
- Implemente programas de reconhecimento e recompensa:
A motivação é uma vida de mão dupla nessa estratégia. Quanto mais uma empresa gera reconhecimento em direção a seus colaboradores, mais eles se sentem motivados. A dica aqui é promover programas de reconhecimento público, seja por meio de prêmios, menções em reuniões ou até mesmo bônus, para aumentar o engajamento e a lealdade do funcionário.
- Crie oportunidades de crescimento
Para que os colaboradores cresçam dentro da empresa, é importante que a organização ofereça essas oportunidades. Workshops, treinamentos e programas de capacitação são exemplos de oportunidades, além de criar planos de carreira e promoções para manter os colaboradores dentro da empresa.
- Ofereça melhoria na qualidade de vida no trabalho
As empresas podem oferecer flexibilidade de horário e possibilidade de trabalho remoto, algo que ajuda a equilibrar a vida profissional e pessoal, além de a consequência disso ser uma equipe mais satisfeita e engajada.
- Promova feedback constante e diálogo aberto
A comunicação transparente e o feedback constante são fundamentais para manter os colaboradores engajados, e é importante que os gestores se mostrem acessíveis e dispostos a ouvir as necessidades de seus funcionários. Realizar reuniões individuais regulares pode ajudar a identificar possíveis problemas antes que eles se tornem maiores.
Prevenção a longo prazo
A prevenção da demissão começa com uma forte cultura organizacional baseada na comunicação constante e no reconhecimento. Além disso, adotar políticas de transparência, alinhamento das expectativas e valorização dos colaboradores. Organizações que têm um propósito claro, que oferecem oportunidades de crescimento e que estão atentas ao bem-estar dos seus funcionários têm menos chances de enfrentar esse problema a longo prazo.
Conclusão
A demissão silenciosa é um fenômeno que exige atenção redobrada dos líderes e gestores. Entender o que a causa é mais do que necessário; ela deve ser prevenida dentro das empresas para assegurar que os colaboradores se sintam valorizados, desafiados e reconhecidos. No caso de haver um funcionário passando por isso, é dever da organização identificar seus sinais e implementar estratégias eficazes de prevenção ou até mesmo reversão. Isso não só evita o quiet quitting, mas também fortalece a lealdade de sua equipe e impulsiona o desempenho organizacional num todo. Portanto, fique sempre atento às necessidades da sua equipe e promova um ambiente de comunicação aberta e constante. Pega essa dica da Geek! Até a próxima!