Até a forma que a palavra “Benchmarking” soa pode parecer técnica demais. Não se preocupe, caro leitor, pois não é. Na prática, ela é muito mais comum do que aparenta ser, especialmente na área de recursos humanos.
Em simples termos, benchmarking é o processo sistemático de comparar práticas, processos e resultados da sua empresa com os de organizações referência no mercado.
O objetivo? Aprender com os melhores, adaptar o que funciona e elevar o próprio desempenho.
A origem do termo vem da união de “benchmark” (referência, marco de comparação) com o sufixo “-ing” (ação contínua). Ou seja: benchmarking pode ser entendido como uma atividade constante de análise e aprimoramento.
Embora o conceito tenha surgido com mais força na indústria manufatureira (como nos casos clássicos da Xerox nos anos 70), ele hoje ocupa um lugar central em decisões estratégicas de RH.
No artigo de hoje vamos entender do que se trata o benchmarking, como aplicar e suas melhores práticas para um RH mais proveitoso. Vamos lá?
Para que serve o benchmarking em RH e TI?
O benchmarking serve como um termômetro e um espelho. Ele ajuda empresas a entenderem se estão acima, abaixo ou na média do mercado em relação a práticas fundamentais, como atração de talentos, retenção, engajamento, tempo de resposta de chamados, automações, performance de sistemas e mais.
Se antes as decisões em RH eram baseadas apenas em feeling, hoje o cenário mudou: dados são a base da gestão moderna. E benchmarking é uma ferramenta-chave para interpretar esses dados de forma comparativa e estratégica.
Os principais objetivos do benchmarking nessas áreas são:
- Melhoria contínua: monitorar e corrigir gargalos com base em padrões externos.
- Inovação aplicada: adaptar boas ideias testadas e validadas por outras empresas.
- Competitividade: identificar tendências e não ficar para trás.
- Justificativas orçamentárias: usar dados de mercado para embasar investimentos em tecnologia, treinamentos, salários e benefícios.
Tipos de benchmarking
Benchmarking interno
Aqui, a comparação é feita entre departamentos, equipes ou filiais da própria empresa. É útil para padronizar processos, compartilhar boas práticas internas e entender variações de desempenho.
- Exemplo no RH: comparar os indicadores de turnover entre as filiais da empresa.
Benchmarking competitivo
Nesse modelo, a empresa compara seus dados diretamente com os de seus concorrentes diretos, o que ajuda a entender o próprio posicionamento no mercado.
- Exemplo RH: comparar o tempo médio de contratação de desenvolvedores com o de empresas rivais.
Benchmarking funcional
Aqui, a comparação se dá com organizações que possuem processos similares, mesmo que não sejam concorrentes ou do mesmo setor.
- Exemplo RH: adotar o modelo de employee experience de uma startup de educação.
Benchmarking genérico
Nesse caso, o foco está em práticas exemplares, independentemente do setor. Ele se concentra em inspiração e adaptação de modelos eficientes.
Como fazer benchmarking
- Defina o objetivo do benchmarking:
O primeiro passo é ter clareza: o que você quer medir ou melhorar? Pode ser a redução do tempo de contratação, o aumento do eNPS (Employee Net Promoter Score), a velocidade de deploys ou a automação de respostas de suporte. - Escolha os indicadores certos:
Os KPIs são o coração do benchmarking. Em RH, eles podem incluir absenteísmo, turnover, eNPS e tempo de integração. Em TI, podemos falar de SLA, MTTR (Mean Time to Repair), tempo de resposta, bugs em produção e uptime. - Selecione as empresas de referência:
Podem ser concorrentes diretos, empresas premiadas (como as listadas no GPTW), ou até benchmarks globais (como estudos da SHRM, McKinsey, Gartner). - Colete os dados:
- Fontes primárias: entrevistas, visitas técnicas, pesquisas diretas.
- Fontes secundárias: estudos de caso, whitepapers, relatórios anuais, publicações de mercado.
- Compare e analise os dados:
Crie gráficos, tabelas e dashboards. O objetivo é encontrar gaps e oportunidades de melhoria, e não apenas celebrar ou criticar os resultados. - Adapte e implemente:
Não copie: adapte. Toda boa prática precisa ser contextualizada à cultura, ao orçamento e à maturidade digital da sua empresa. - Monitore os resultados:
Avalie se as mudanças estão gerando impacto real. Refaça o benchmarking periodicamente, criando um ciclo contínuo de aprendizado.
Indicadores mais usados no benchmarking de RH e TI
Área | Indicador | O que mede |
RH | Turnover | Taxa de rotatividade de funcionários |
RH | eNPS | Satisfação e lealdade dos colaboradores |
RH | Tempo de contratação | Quantos dias para preencher uma vaga |
RH | Absenteísmo | Faltas não justificadas |
TI | SLA | Nível de serviço acordado |
TI | MTTR | Tempo médio de reparo |
TI | Uptime | Tempo em que sistemas ficam disponíveis |
TI | Bugs por release | Qualidade das entregas de software |
Esses dados podem ser coletados via ferramentas como Tableau, Power BI, Jira, entre outras.
Boas práticas para um benchmarking eficiente
1. Evite a “cópia cega”: adapte, não replique
Benchmarking é uma ferramenta de aprendizado estratégico e adaptação inteligente.
O que deu certo em uma empresa pode falhar na sua se o contexto for ignorado. Cultura organizacional, estrutura de equipes, orçamento, maturidade digital e até perfil dos colaboradores interferem diretamente na eficácia de uma boa prática.
Em RH, por exemplo, adotar um modelo de onboarding de uma big tech pode ser desastroso se sua empresa tiver outra estrutura hierárquica ou ritmo de crescimento.
A dica de ouro: absorva a essência da prática e reconstrua com base na sua realidade operacional.
2. Foque no que é mensurável e comparável
Benchmarking só funciona se houver dados confiáveis e padronizáveis.
Evite iniciar um benchmarking com base em impressões vagas, percepções ou métricas genéricas. É essencial que os KPIs escolhidos:
- Sejam claramente definidos (ex: “tempo médio de contratação” = dias corridos do início da vaga até a admissão).
- Sejam comparáveis com o mercado, ou seja, adotem o mesmo padrão de medição que outras empresas.
- Sejam relevantes para a tomada de decisão.
Um erro comum em RH é usar indicadores mal calculados, como “rotatividade anual” sem considerar diferenças de carga horária ou natureza contratual.
3. Envolva as lideranças desde o início
O benchmarking não pode ser uma missão somente do RH ou do time de dados. Para que a iniciativa funcione de fato, a liderança precisa entender, apoiar e usar os resultados.
A falta de patrocínio executivo transforma relatórios comparativos em PDFs esquecidos na nuvem.
Por outro lado, quando gestores participam desde a definição das métricas até a análise dos resultados, o benchmarking ganha peso político e valor estratégico.
Em empresas orientadas a dados, diretores de RH usam benchmarking para negociar budget com o CFO, justificar mudanças estruturais ou propor novos modelos de gestão de desempenho.
4. Documente todo o processo (inclusive os erros)
Benchmarking não é feito apenas para responder “quem faz melhor?”. Ele também serve para mapear o que foi tentado, o que deu certo e o que não funcionou e por quê. Por isso, a documentação precisa ir além dos números. Inclua:
- Fontes de dados utilizadas
- Decisões metodológicas (como o KPI foi calculado)
- Dificuldades enfrentadas na coleta ou análise
- Adaptações feitas na implementação
- Resultados práticos após X meses
Ter esse histórico ajuda a criar uma linha evolutiva clara e permite que o benchmarking seguinte seja ainda mais refinado.
Em RH, isso pode evitar que a empresa repita erros ao tentar adaptar uma política de benefícios.
5. Faça do benchmarking um hábito, não um projeto pontual
Benchmarking precisa deixar de ser uma ação reativa (“nossa concorrente contratou mais rápido”) para se tornar parte do ciclo estratégico contínuo da empresa. Isso significa:
- Definir benchmarks internos e externos como parte dos OKRs do time
- Atualizar dados comparativos em ciclos regulares (trimestrais, semestrais, anuais)
- Monitorar indicadores com dashboards em tempo real
- Incentivar a cultura da curiosidade comparativa (“como estamos em relação ao mercado?”)
Um RH que monitora o turnover anualmente, ao invés de frequentemente durante os meses, pode demorar demais para agir. Cuidado com isso.
Benchmarking contínuo: transforme o hábito em cultura
Benchmarking é um processo vivo, iterativo, que precisa estar enraizado na cultura da organização. Empresas que adotam o benchmarking como parte de seu funcionamento regular são as que evoluem com consistência e não apenas em momentos de crise ou sob pressão competitiva.
Em vez de perguntar “como estamos em relação ao ano passado?“, o foco se desloca para perguntas mais poderosas:
- Como estamos em relação ao mercado hoje?
- O que nossos concorrentes estão fazendo melhor do que nós?
- Quais práticas de referência podemos adaptar antes que a concorrência o faça?
Essa mudança de mentalidade exige que o benchmarking deixe de ser uma responsabilidade exclusiva do RH, do TI ou da liderança, e passe a ser incorporado como um comportamento organizacional.
Equipes com maturidade analítica aprendem a olhar para fora sem medo, com o objetivo de aprender e crescer, não de se defender.
… e transformar benchmarking em rotina significa:
- Realizar análises periódicas: ao invés de iniciativas esporádicas, crie ciclos regulares de análise comparativa trimestral ou semestral.
- Manter dashboards atualizados: dados obsoletos distorcem a realidade. Automatize a atualização dos principais KPIs usados no benchmarking.
- Investir em capacitação analítica: ensinar profissionais de RH e TI a interpretar dados, questionar padrões e tomar decisões com base em evidências.
- Estimular times a buscar referências externas: benchmarking também se faz com curiosidade ativa. Incentive profissionais a participarem de eventos, comunidades e fóruns do setor.
Conclusão:
Em tempos de excesso de informação e escassez de foco, tomar decisões com base em dados concretos virou uma vantagem competitiva. E é justamente isso que o benchmarking oferece: clareza estratégica para quem precisa crescer com propósito.
O benchmarking é uma prática que convida empresas e profissionais a assumirem a responsabilidade pelo próprio desempenho, ele exige humildade para reconhecer onde estão os gaps, coragem para enfrentar as mudanças e inteligência para adaptar boas práticas ao seu próprio contexto.
Mas atenção: benchmarking não se trata de obsessão com a concorrência. Trata-se de evolução inteligente, constante, baseada em dados reais e não em achismos. Até a próxima!